(1) Da mesma forma que nossas festas litúrgicas, tais como Quaresma, Páscoa, Pentecostes, Natal, Epifania, etc., são festas que foram sendo elaboradas com o passar do tempo, o mesmo se dá na elaboração e estabelecimento do período do Advento.
Nos primeiros séculos da história da Igreja, não tínhamos o ritmo litúrgico como nos dias de hoje. Devemos ainda dizer que mesmo em nossos dias permanece certas diferenças em relação a datas de celebrações entre a Igreja no Ocidente e a Igreja no Oriente, chamado de forma geral (sem precisar) a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa.
A adoção do calendário gregoriano ou do calendário juliano também causa diferenças em datas no decorrer do ano. Portanto, se, no geral, o cristianismo segue as mesmas festas, existem diferenças nas datas de celebração entre uma Igreja e outra.
É importante salientar que a Igreja Católica comporta vários ritos no seu interior. No ocidente, na Igreja Católica Romana, prevalece o rito latino, mas essa comporta outros ritos de base orienta.
Somam-se à Igreja Católica as Igrejas Orientais que não seguem o mesmo calendário do rito latino, sem contar a grande expressão das Igrejas protestantes. Para as Igrejas que seguem o calendário gregoriano o Advento começa quatro semanas antes do Natal, isto é, a data mais antecipada será o dia 27 de novembro e a mais tardia o dia 3 de dezembro, encerrando, portanto, o período no dia 24 de dezembro.
A prática do Advento tem início no decorrer do século IV, na França, na Diocese de Tours; e, a partir dos séculos V e VI, a liturgia do Advento torna-se uma prática para toda a Igreja. Evidentemente que o estabelecimento do período do Advento está em relação direta com a fixação da data do dia nascimento de Jesus.
Depois de várias tentativas para fixar o dia que Jesus teria nascido - e mesmo com a oposição de alguns para a não fixação de um dia para não se confundir com os pagãos que comemoravam o nascimento dos seus deuses - a Igreja em Roma, nos meados do século IV, começou a celebrar o nascimento de Jesus no dia 25 de dezembro, substituindo uma festa pagã romana que celebrava o dia do ‘Sol invictus’ (Sol invencível).
Em 386 João Crisóstomo fez um sermão intitulado: ‘In diem natalem’ (no dia do natal) em que ele convida seus fiéis a observar o 25 de dezembro como o dia do nascimento de Jesus. Nos séculos posteriores essa data se consagrou para toda a Igreja.
No primeiro momento o período do Advento era celebrado durante seis semanas e seu início se dava no dia de São Martinho, 11 de novembro. Era um tempo marcado por uma profunda preparação em vista da chegada de Jesus em que os fiéis jejuavam três vezes por semana; poder-se-ia entender este período como similar ao período da quaresma que era uma preparação para a Páscoa do Senhor ressuscitado.
É importante dizer que essa prática se dava de forma espontânea, a Igreja nunca impôs como norma a observância do jejum, não acarretando, portanto, em falta a sua não observância.
Esta prática de intensa preparação, através do jejum, é evidenciado no período de Carlos Magno, no século IX e mesmo até o século XII. Depois, progressivamente, vai-se perdendo sua importância e essa prática é pouco observada igualmente na Igreja ortodoxa.
A Igreja Católica, há muitos séculos, passou a observar o Advento durante quatro semanas antes do Natal e não impõe nenhuma obrigação específica, mas permanece na liturgia um aspecto de preparação e de recolhimento. A cor roxo na liturgia substituiu a cor preta no passado.
Não é um período para celebrações festivas, como por exemplo o sacramento do matrimônio. Este aspecto, um pouco introspectivo, durou até o Concílio Vaticano II. A partir de 1963 houve algumas modificações na liturgia para marcar as diferenças entre os períodos litúrgicos da Quaresma e do Advento.
Este período é vivido como um tempo de preparação e de esperança diante do Advento de Jesus. Se o ano civil inicia-se no dia 1 de janeiro, com o Advento a Igreja inicia o ano novo litúrgico. No domingo anterior ao Advento, a Igreja encerra seu ano litúrgico com a celebração da festa do ‘Cristo Rei’ em que Jesus, através de sua morte na cruz e sua ressurreição, vence o mundo e faz toda a humanidade co-partícipe de Sua vitória.
O novo ano litúrgico, portanto, é iluminado pela certeza de que Deus intervém na história e a redime: “Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó. Ora, Ele não é Deus de morte, mas sim de vivos” (Mc 12, 26-27). É, pois, a fé pós-pascal, na certeza do Jesus ressuscitado, triunfante sobre a morte, que motiva todo o movimento litúrgico do Advento e abre o ano novo.
Por isso o tempo do Advento celebra três etapas da vida cristã: Jesus, O Messias que nasce em Belém, a presença do Cristo em nosso meio hoje e sua manifestação gloriosa que nutre a esperança cristã:
“Aquele-que é, Aquele-que-era e Aquele-que-vem” (Ap 1,8). Portanto, já no início do ano litúrgico a tríplice referência do passado, do presente e do futuro está manifesta na liturgia do Advento. De fato a liturgia está fundada na esperança messiânica anunciada nas Escrituras do Povo Judeu (2). Os textos que serão lidos apresentam o anúncio, a espera e a chegada, e, ao mesmo tempo, fortalecem a esperança da vinda futura.
A experiência feita da morte e ressurreição de Jesus, vivida pela comunidade dos seus seguidores e seguidoras, que no seu contexto primeiro era inteiramente composta de judeus, iluminou suas esperanças messiânicas e foi entendido como o cumprimento/realização da espera.
É, pois, somente a partir da espera messiânica judaica que a encarnação de Deus torna-se compreensível. Os relatos sobre Jesus no Novo Testamento dão testemunho de que a sua morte e ressurreição foram segundo as Escrituras, dado que são essas mesmas Escrituras que anunciam e explicam os acontecimentos que envolvem a encarnação (nascimento), morte e ressurreição de Jesus: “... era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Torá de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então abriu-lhes a mente para que entendessem as Escrituras, e disse-lhes: Assim está escrito que o Cristo devia sofrer e ressuscitar dos mortos ao terceiro dia...” (Lc 24, 44).
Ademais Paulo, sem entrar em discussão sobre os fatos históricos, nos fala da transmissão da fé recebida e transmitida, fundada, antes de tudo, nas Escrituras: “Transmiti-vos, em primeiro lugar, aquilo que eu mesmo recebi: Cristo morreu por nossos pecados segundo as Escrituras. Foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras...” (I Cor 15, 3).
Assim, pois, à luz da fé Pascal, toda a vida de Jesus, retroativamente, foi iluminada e interpretada segundo as Escrituras. Isto é, depois de sua morte e ressurreição, segundo as Escrituras, o nascimento de Jesus foi visto e entendido no sentido pleno do Deus encarnado, segundo as Escrituras.
Dessa forma o seu nascimento também dá-se conforme o que estava anunciado nas Escrituras: “O Anjo, porém, acrescentou: Não temas, Maria! Encontraste graça junto de Deus. Eis que conceberás no teu seio e darás à luz um filho, e tu o chamarás com o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará na casa de Jacó para sempre, e o seu reinado não terá fim” (Lc 1, 30-33).
A tradição da Igreja soube preservar seu enraizamento na tradição bíblica-judaica. Como exemplo vemos que a liturgia atual conservou a chamada Antífonas do Ó. A composição dessas Antífonas remonta aos séculos V e VI. São as sete antífonas especiais do tempo do Advento. Elas são cantadas especialmente nos dias 17 a 23 de dezembro. Além de estarem presentes na Liturgia das Horas, como Antífonas do Magnificat, elas se encontram como aclamação ao Evangelho da Missa.
Fundamentalmente é uma afirmação cristológica enraizada profundamente nas Escrituras do povo judeu. Os títulos são todos do Antigo Testamento e o ensinamento expressa a teologia bíblica em que Deus age do particular para o Universal, atravessando a história, passando pelo povo de Israel para chegar até as Nações. Na verdade o Messias/Cristo é inserido inteiramente no universo da Palavra de Deus e sua manifestação emana do seu interior, revelada e vivida pelo povo de Israel.
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